quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Um mimo do passado

Célia Gil

(imagem do Google)

Recosto-me no sofá das recordações,
fecho as pálpebras que acolhem os olhos
e sou beijada pelas memórias
de pequenos toques fraternos
que embalam todo o meu ser.

    E já não sou eu que ali estou, mas a menina rabina de olhos curiosos abertos num sorriso que alberga o mundo. Sedenta de histórias antigas contadas pela avó, ansiosa por ouvir grandes caçadas feitas em África pelo avô. E lambuzo-me de mangas maduras que a avó vai descascando. O avô acaba por adormecer na sua cadeira de ripas, num sereno ar sonhador. A avó conta-me como se conheceram, como nasceu o amor entre eles, como, entre tantos pretendentes, foi aquele que conquistou o seu coração. Conta-me que, quando ia à fonte, com o cântaro à cabeça, cortava as voltas a quantos lhe queriam falar, virando para uma outra rua. E o meu avô sorri no seu sono, sonhando com a época em que tocava concertina e punha todas as raparigas a dançar. E eu baloiço, na encosta que vai dar ao rio, vou cada vez mais alto, numa adrenalina de vida e emoções.
    Acordo com o livro que cai ao chão, num estrondo que me desperta desta letargia que me levou à infância. A minha avó dormita, sentada no sofá ao lado, com o terço ainda nas mãos, depois de ter rezado pelos seus entes queridos, o meu avô e a minha mãe. Invade-me um desejo enorme de a abraçar para lhe agradecer todas as boas memórias do passado.
                                                                                                  Célia Gil

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Naturalmente eu

Célia Gil
(imagem do Google)

Sou uma miscelânea de emoções.
Coexistem em mim todas as estações.

Sou  esplendoroso sol  de verão
quando a vontade me domina,
quando a força me deixa irradiar
o brilho em tudo o que faço
aquecendo a alma de todos
os que me rodeiam.

Sou um raio esmaecido
numa manhã de primavera tímida,
quando de mim se apodera a insegurança,
quando o meu sorriso tem uma nuvem
que não o deixa brilhar em plenitude.

Sou chuva de inverno
quando a minha alma chora
e me entristeço com o rumo
que o mundo toma.

Sou tornado em violenta tempestade
quando me revolto e me imponho,
levando e lavando a vida dos destroços
que o passado semeou na minha alma.

Sou nevoeiro em manhãs tristes
quando me desiludo com quem amo
e remeto-me ao meu silêncio
e à escuridão do meu pesar.

Sou orvalho em alvorada da vida
quando sacio a sede de amor,
quando atinjo os meus objetivos
e os meus sonhos ganham vida.

Sou assim…Naturalmente natural…
Como a natureza que venero.
                                         Célia Gil

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

A beleza vem de dentro

Célia Gil

(imagem do Google)


Tanta gente bonita
exibe, sem conseguir esconder,
olhos tão tristes
que denunciam o seu sofrer.
E o sorriso tranquilo
faz um esforço por ocultar
toda a mágoa que os seus olhos
deixam extravasar.
Não há beleza que resista
a uma alma em sofrimento,
porque, por mais beleza que exista,
o que conta é o que vem de dentro.
E o que a mim mais me espanta
é ver gente sem uma beleza visual
na qual o sorriso se agiganta
e a deixa sensacional.
A beleza vem de dentro
e sai de forma natural,
ganha uma proporção fenomenal,
exibindo-se em todo o movimento.
Por isso há quem diga
“Mas que pãozinho sem sal”
perante qualquer rapariga
que vive da aparência visual.
                                          Célia Gil


domingo, 28 de agosto de 2011

Poeta, deus da noite

Célia Gil
(imagem do Google)

Na noite escura,
perfumada pelos lírios que se avistam da janela,
o poeta ganha todo o seu esplendor,
agiganta-se este deus da noite
erguendo nas letras o seu louvor.
As palavras ganham vida,
erguem-se na noite,
saem pela janela
em busca de inspiração.
Levam o sono,
trazem sonhos e ilusão.
O deus da noite
mergulha então nesse voo imaginário
e tudo vasculha à sua passagem,
as letras são as contas do seu rosário
com que ele compõe a oração.
E nós, leitores, suplicamos
só mais um poema
que nos alimente a alma
e nos faça sonhar noite fora.
                                       Célia Gil

sábado, 27 de agosto de 2011

Ansiedade humana

Célia Gil
(imagem do Google)

Se tenho tudo para ser feliz,
porque se me comprime o peito?
Porque me sinto um ser desfeito
se da vida tenho tudo o que quis?

Sede e avidez de felicidade,
torna-se em si um vício letal
que nos faz viver em constante ansiedade
e invalida a felicidade total.

E a cada objetivo outro se sucede,
alma exigente, insaciável procura,
que deixa na boca a sensação de secura
e nada satisfaz o que o coração pede.
                                         Célia Gil


sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Sociedade, que futuro?

Célia Gil
Este poema mostra a minha preocupação, como mãe e educadora, pela forma como os jovens atuam. E eles não são os verdadeiros culpados, a sociedade é responsável pela sua educação. Pais ausentes, educadores que se demitem das suas funções, meios de comunicação que incitam à discórdia e à arrogância, valores que se vão perdendo... Há toda uma série de fatores que contribuem para o atual estado dos Homens de amanhã! 

(imagem do Google)

Sociedade permissiva
onde é proibido exigir,
em que contribuir para o sucesso
é a missiva.

Não se deve repreender,
que se deixa traumatizada
a criança malcriada
que acaba por nada aprender.

E a criança vai crescendo
julgando-se dona do mundo,
quando, bem lá no fundo,
cresce nada sabendo.

Tem tudo de mão beijada
e a arrogância à flor da boca,
de palavra cortante e cabeça oca
no futuro não saberá fazer nada.

Eu quero, eu exijo, só eu existo!
Eu tenho sempre razão!
Porque o mundo é dos jovens
e ai dos “cotas” que digam “Não!”

A permissividade tem de acabar
que é mãe de uma sociedade parasita,
que os valores não incita
conhecendo o verbo receber e não o dar.

É preciso começar a exigir,
criar adultos responsáveis, educados.
Com exigência ensinar
para um futuro melhor construir!
                                             Célia Gil


quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Rio da minha memória

Célia Gil
Frondosos salgueiros
estendem longos braços
pelo rio que corre.
Ouvem-se cânticos de aves
que passam rente à água
para bebericar e refrescar as penas.
Coaxam rãs que empreendem
grandes saltos das pedras para a água.
A margem límpida beija a areia grossa
onde repousam pedras de todas as cores.
Um peixe ou outro
vem à tona em saltos de alegria,
voltando a mergulhar logo de seguida.

Rio da minha infância,
rio do meu imaginário,
memórias de um paraíso,
um espaço só meu,
do meu rio, da minha vida.
Fluíste como a vida
e eu tento recuperar o tempo perdido
no curso da minha memória.
                                               Célia Gil


quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Quando a morte vier

Célia Gil
(imagem do Google)

A noite acolhe o meu corpo cansado,
embalando-lhe os sonhos
e brincando com eles.

Envolve-me com os seus braços
longos de escuridão
e afaga-me os cabelos
revoltos no travesseiro.

Beija-me as pálpebras
com suaves lábios frescos
e deixa-me repousar
vigiando-me o sono.

Quando a morte vier
que seja como a noite,
que me acolha lentamente nos braços,
me envolva com suavidade
e me leve a alma
em doces sonhos eternos.
                                  Célia Gil





terça-feira, 23 de agosto de 2011

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Inveja, para quê?

Célia Gil

(imagem do Google)


A inveja é uma agressão sem mãos
mas que desfere os golpes mais profundos.

A inveja bafeja rancor
e olhares de soslaio onde impera desamor.

A inveja deixa o ser humano sem vida própria
pois enquanto se invejam os outros,
esquecem-se de viver.

Eu regozijo-me com a felicidade
e o bem-estar dos que me rodeiam.
Fico feliz se estão bem
e festejo com eles essa meta conquistada.

Invejar? Porquê?
Se sou feliz, se tenho saúde,
se tenho amor e lindos filhos,
o que posso eu invejar?

Invejar? Para quê?
Se todos nos sentirmos realizados
o mundo será uma casa acolhedora
onde imperará a paz e o amor.
                                     Célia Gil

domingo, 21 de agosto de 2011

Encontrei o meu ninho

Célia Gil
(foto daqui)

Sei de um lugar
onde moram as ilusões
onde bailam as emoções…
Sei de um lugar

Sei do lugar
onde o meu coração respira alegria
onde desperta a minha fantasia…
Sei do lugar

Sei que o nosso lugar
é e será sempre o nosso ninho de amor
longe da dor e do dissabor
porque é o nosso lugar!
                              Célia Gil

  (Poema inspirado na minha casa nova. Junto-lhe uma prece: que Deus nos proteja sempre e nos permita sermos felizes neste nosso novo ninho de amor!)

sábado, 20 de agosto de 2011

Os teus olhos

Célia Gil
(imagem do Google)

Viajo nos teus olhos,
que me levam onde nunca fui…
Vejo-me neles
voando ao sabor do vento,
livre do mundo opressor,
livre em alma e pensamento.
Mas os teus olhos
não encerram apenas
a minha liberdade,
a minha auto-estima,
a minha beleza,
todo o meu ser…
Quantas vezes,
nas minhas viagens,
encontro o abismo
e voo em direção ao precipício?
Quantas vezes
me vejo neles
frágil como uma pluma?
Quantas vezes
ignoram a minha beleza
e bebem de outras belezas
fazendo-me sentir pequenina?
Neles moram as contradições
que confundem os meus pensamentos.
Neles brilha a indecisão
que me faz vacilar antes de me entregar.

Mas, apesar de tudo,
continuam e continuarão sempre
a ser as janelas do meu coração.
                                        Célia Gil

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Fotos das férias

Célia Gil
Na rota do Algarve. Aqui ficam algumas fotos:
Alvor em todo o seu esplendor
O meu marido contemplando a vastidão do oceano:


O céu da Marina de Alvor, repleto de gaivotas:



Em Monte Gordo, um mar semeado de gaivotas:


Pelos jardins de Monte Gordo:



A Praia Verde, com recantos e encantos:


Albufeira, com os seus olhos de água doce, que brotam no areal banhado pelo mar:



As esculturas em areia no Fiesa ,em Pêra:







E, para finalizar, Portimão, a Praia da Rocha:
com as suas águas translúcidas:



quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Carta a Deus

Célia Gil

(imagem do Google)

Hoje, um dia especial, em que a minha mãe fazia anos se estivesse viva, quero deixar uma carta com a minha "luta" interna com a descrença:
                                                                                                                  Fundão, 17 de Agosto de 2011


Meu Deus,

Tenho adiado esta minha conversa Contigo, mas era inevitável. Escrevo-Te porque necessito de o fazer. São muitas as dúvidas, as perguntas que a vida me foi colocando. Quem sou eu para Te julgar? Quem sou eu para Te desacreditar? Só quero perceber…

Ao longo da vida, esta “escada sem corrimão” (David Mourão-Ferreira), vamos passando por tantas provações…E somos humanos…Erramos, nem que seja em pensamento.

Fui educada na religião católica, não praticante, porque os meus pais não iam à missa. Apesar disso, e como as minhas avós eram muito devotas, fiz o batismo, a primeira comunhão, o crisma e o casamento na Igreja católica. Mas sinto que não o fiz com aquela entrega espiritual que vejo em muitas pessoas. Fi-lo com algum desprendimento, sem me identificar muito com os preceitos. Quando me ia confessar, chorava imenso, porque tinha de arranjar pecados para me penitenciar e sentia-me a criança mais suja de toda a humanidade. Saía da confissão com um sentimento de culpa que me pesava na alma.

Quando o meu pai adoeceu, eu quis acreditar em Ti com todas as minhas forças e rezei muito, com toda a devoção que podia. Mas foi em vão… Aos 49 anos o meu pai faleceu de doença prolongada. Fiquei triste, mesmo até zangada, porque me mentalizei de que nada fizeste para o evitar, não ouviste as minhas preces. Questionei-me sobre as razões que Te levaram a levá-lo tão cedo e não outras pessoas más e cruéis que cá ficaram a estragar a vida a tanta gente.

Quando, passados 8 anos, a minha mãe adoeceu, quis perguntar-Te o que de tão mal tínhamos feito para merecer tamanha desgraça.

Num dos momentos posteriores a um tratamento de quimioterapia feito pela minha mãe, enquanto se restabelecia no quarto, às escuras, de onde não conseguia sair durante dois dias, faleceu, no quarto ao lado, o meu avô, pai da minha mãe, vítima também de doença prolongada, com 74 anos. Aos 55 anos a minha mãe faleceu, vítima de doença prolongada.

Apeteceu-me gritar contigo no alto de uma montanha. Senti-me só, desamparada e, como filha única, senti que me estavam a cortar as minhas frágeis raízes. Porquê? Porquê Deus meu? Porquê os meus pais, que nunca fizeram mal a ninguém?

E aí rompi quase definitivamente Contigo e tornei-me descrente.

Quando os meus filhos fizeram a primeira comunhão e quiseram sair da catequese, eu não tive argumentos para lhes dizer que continuassem, se eu própria quase não ia à Igreja, se quando ia me sentia fora do meu mundo.

Sabes, criei o meu mundo de descrença onde Tu não tinhas lugar. Mas como pessoa esclarecida que sou, sei que Te nego e Te desejo.

Há em mim uma dualidade de sentimentos. Por um lado, penso que seria mais feliz se Te tivesse na minha vida para me aconselhares, me protegeres da crueldade do mundo e sentir uma Paz que não sinto há muito. Por outro, nego-Te, culpabilizo-Te por tudo o que passei, responsabilizo-Te por não teres feito nada para mudar o rumo ao destino.

Contudo, sinto-me espiritualmente tão só…É como se me faltasse algo, como se tivesse eu de arcar com o peso de todas as responsabilidades sozinha. Mas nem sempre sou a muralha em que me tornei, às vezes fraquejam os pilares em que sustentei a minha existência. E quando estou mais vulnerável, queria poder acreditar que não estou só, que me proteges, me indicas o melhor caminho a seguir.

Quero acreditar em Ti, renascer para a crença, deixar nascer em mim a cristã. Ainda me aceitarás? Permitirás, depois de tantos anos de costas voltadas, que eu comece a acreditar em Ti? Se, como dizem, a Tua bondade é infinita, dá-me um sinal do teu amor e protege-me a mim e aos que mais amo durante o resto da nossa efémera existência. Perdão!

                                                                                                                                                   Célia Gil

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Sonho meu

Célia Gil
De regresso, após umas merecidas férias, pronta para enfrentar mais um ano de trabalho!
(imagem do Google)

Por ti, sonho meu,
deixei entrar o sol pela janela,
deixei que me beijasse os olhos
com um bom dia nos lábios.

Por ti, sonho meu,
escondi palavras nas janelas dos meus olhos,
aninhei-as na mente
para as deixar fluir em noites de insónia.

Por ti, sonho meu,
enchi-me de coragem
e roubei as ilusões ao tempo
para me adormecerem nas noites frias,
embalarem a minha sensibilidade,
reforçar a fé
e cultivar a esperança.

Por ti, sonho meu,
guardei as flores dos canteiros
nas cores que me inundam os olhos,
no perfume que me inebria o sono,
num bosque onde a borboleta
se junta ao beija-flor
para saborearem o orvalho
recém criado nas verdes folhas.

Só por ti, sonho meu…
                                       Célia Gil



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