quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Amizade

Célia Gil




             A amizade é preciosa,
             mas não é dizer apenas sim,
que com palavra enganosa,
há falsos amigos de mim.
Amigos de conveniência,
estão ali por breves momentos,
amigos de ausência,
fogem dos meus tormentos.
Amigos que viram costas
sempre que mais precisamos,
amigos de quem gostas,
com os que mais nos enganamos.
Amigos de circunstância,
que te aguentam enquanto ris.
Mas que depois vão com a distância,
quando simplesmente já não sorris.
Amigos de profissão,
cujo objectivo é descobrir
os teus pontos fracos
para com eles subir.
Amigos dos teus bens,
que te dão tanto sem pedir,
mas que quando nada tens,
estão prontos a partir.
Amigos que te enganam,
aqueles que gostam de te apoiar,
que com palavrinhas te acalmam,
mas que te querem tramar.
E quando estás no apogeu
das tuas vitórias na vida,
o maior ciúme é o seu,
gente de inveja roída.

Isto tudo não é amizade,
não é dar sem nada esperar,
não é elogiar sem com nada contar,
sentir a ausência e a saudade.
Isto não é amizade,
é um acto de cobardia,
para quem não se entrega e não sabe
que a amizade é alegria.
Alegrar-me pelos meus queridos,
mesmo estando muito triste,
são sentimentos merecidos
da amizade que persiste.
E um amigo verdadeiro,
não tem inveja, fica feliz, insiste,
é amigo por inteiro.

Mas, para além do que é bonito
de se dizer ou fazer,
um amigo também diz
coisas que nos fazem sofrer.
Os amigos abanam-nos
para nos chamar à razão,
mas não nos deixam de falar
até entenderem a nossa motivação,
o que nos levou a falar
a protestar, a objectar,
porque um amigo a sério,
perante uma atitude errónea,
é capaz de dizer não
mesmo que fique com insónia.

Ser amigo é ser capaz
de perdoar o que não tem perdão,
mas é também fazer finca-pé,
chamar o amigo à razão
e saber dizer não!

Não é ser amigo de sangue,
mas amigo de coração.
                               Célia Gil

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Perdi a paciência

Célia Gil
     Resultado de imagem para viver
            (imagem do google)

    Perdi a paciência para as pessoas sem escrúpulos, as pessoas que se dizem amigas e que, à primeira oportunidade, dão mostras de invejar tudo o que se tem ou se é.
          Perdi a paciência para as pessoas que são amigas quando se está apenas na mó de baixo e que mudam radicalmente quando se está bem ou muito bem.
          Perdi a paciência para conversas triviais, sem essência, sem núcleo.
          Perdi a paciência para reclamações sem sentido, por tudo e por nada, por banalidades.
          Perdi a paciência para as pessoas que passam a vida a queixar-se de qualquer ínfima contrariedade da vida, quando têm o que é essencial, a saúde.
          Perdi a paciência para pessoas aborrecidas, que passam a vida a falar em trabalho, a criticar os outros e não conseguem rir com uma piada.
          Nos limites da minha paciência, resta-me paciência para as crianças, para os idosos, para risos descontraídos, brincadeiras inofensivas, sorrisos sinceros...Para aproveitar a vida!
                                                                                                                          Célia Gil


segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Insatisfação (des)humana

Célia Gil

          Encaro, por vezes, a vida como se tivesse acabado de nascer. Tudo me parece irreal, entre a ficção e a realidade, mas muito improvável. E sinto que os meus pés não estão fixos no chão. Pairam sobre uma plataforma de esponja irregular, que nem sempre sei contornar. As vozes que antes escutava ali, são agora vozes que se escutam ao longe, num eco que não consigo evitar. Vozes cujas mensagens não consigo ou não quero discernir. Vozes da razão, em gente que domina o mundo, que se sente segura de si, cheia de si, tão plena de si que os outros são meras partículas neste seu mundo.  Eu que me sinto ínfima partícula, deslocada deste mundo de heróis, só tenho vontade de voltar às origens, à infância, ao momento em que não precisava ser dona de nada, senhora de qualquer coisa, mas em que era verdadeiramente eu, na minha mais pura essência. Tão bom ser assim, sem precisar parecer! Tão feliz assim quando não me exigiam que fosse feliz! Tão eu!


Insatisfação (des)humana

Quem sou eu?
Quem nunca se questionou?
Quem nunca desejou
que o tempo voltasse atrás?

Todos pensamos e ponderamos
se escolhemos o melhor caminho,
a profissão certa,
a vida desejada…
Porque a vida desilude,
põe-nos a toda a hora à prova.
E se? E se?
Quantos ses na nossa vida…

O ser humano é assim,
um eterno insatisfeito!
Um pensador nato,
que perde tempo a interrogar-se,
passa a vida a lamentar-se,
os dias a desculpar-se
dos erros que não enfrenta,
das dificuldades que se lhe deparam.
Sempre com a alma iludida,
insatisfeito por profissão,
sem encontrar uma razão,
passa ao lado da vida.
                                       Célia Gil

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Pátria morta

Célia Gil


Depois de tanto tempo sem aparecer, aqui estou eu, esperando que seja novamente para ficar. 
Primeiro foi o ano cansativo de trabalho que tive. Depois das férias, foi o ser confrontada com a possibilidade de ficar sem emprego... 
Só agora, já com algumas garantias, me senti com forças para regressar. 
Estive tão triste que nem escrever conseguia. Só espero que a inspiração não se tenha esvaído com a tristeza de sentir que o meu querido país sentiu, depois de 21 anos de trabalho, que não fazia falta e que podia perfeitamente ficar sem trabalho. É triste toda a situação, os mega-agrupamentos de escolas, em que é quase impossível a uma só direção manter um ensino personalizado e de qualidade. O que interessa é a quantidade que podem poupar. Então, junta-se uma panóplia de escolas e, consequentemente, reduzem-se assistentes operacionais, professores, as turmas aumentam, e as escolinhas quase caseiras que tínhamos tornam-se fábricas de alunos em que o que interessa verdadeiramente não são os alunos e sim a economia do país. Se é preciso uma injeção de capital no país, então por que não mandar para a rua milhares de funcionários? É este o país da treta em que agora estou, e é triste quando nos sentimos a mais na nossa escola, no nosso país, quando onde há realmente gente a mais é na política!
Na minha escola, que era uma escola básica de 2º e 3º ciclo, nunca tive horário zero. Na escola ao lado, a secundária, quase sempre houve dois horários zero no nosso grupo de português. Ao juntarem as escolas, a nossa ficou, evidentemente, prejudicada. É muito triste e injusto. 
Não sei é como conseguem dormir os nossos políticos sem se preocuparem com o facto de deixarem tanta gente sem emprego, nomeadamente famílias com filhos menores dependentes. Provavelmente, a instabilidade que os nossos filhos sentem em nós, ir-se-á refletir neles, e cedo começa a revolta, palavra que as crianças nem deviam conhecer, mas que muito novas vão descobrindo à força e com a política que temos. Onde está a esperança? Já não é possível às crianças de hoje viverem na ilusão das histórias de encantar, quando veem destruir todos os castelos em seu redor. É este o país/mundo que queremos? Mas é este o país/mundo que temos!

Desilusão

O que há em mim hoje
é a solidão existencial
que me deixa à deriva.
Procuro-me no vazio
e encontro o nada.

Há momentos na vida
em que somos soldados da paz,
espalhamos amor,
vivemos amizades,
partilhamos respeito,
proclamamos fé,
seguros de nós,
autoconfiantes.

As dúvidas derrubam-nos
as certezas que se tornam questionáveis.
Demoramos anos a acreditar
em coisas que, num minuto,
perdem a credibilidade.

Vem a ansiedade
semear na alma o desespero.
Vem a angústia
questionar a fé
e pô-la à prova.
Vem a desilusão,
qual vendaval,
levar o amor
soprando-o até ao abandono.
Vem a falsidade
qual sismo
abrir fundas fendas
no sentido
da própria vida.
Vem a insegurança
roubar a autoconfiança,
deixar o ser na solidão.
O ser antes confiante
é hoje alguém que jaz,
só, triste e errante.

E o soldado da paz
deposita as armas no chão,
cansado de lutar sozinho
por uma causa que cria nobre,
mas que não passa de causa vã.
                                     Célia Gil


                 Pátria morta

Quando penso no meu querido País,
relembro um passado vitorioso,
heróis com grandes feitos gloriosos,
construíram uma Pátria feliz.


Orgulho retratado n'Os Lusíadas 
pelo grandioso poeta Camões,
qual Nação escolhida que elegias
p'ra enaltecer a maior das Nações.


Mas os heróis caíram por terra,
rendidos numa nação sem esperança,
personagens de quem já nada espera.


Tão somente o desespero e a derrota
que levam ao crime e insegurança,
deixando-nos uma pátria morta!

                                     Célia Gil

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