sexta-feira, 13 de junho de 2014

Luta diária

Célia Gil
(imagem do Google)

Às vezes sem fé
continuo o meu caminho,
faço mesmo um finca-pé
à procura do destino.

Às vezes sem norte
ando de costas pró sul
e não sei se é por sorte
mas encontro o meu azul.

Às vezes sem cor
pinto um mundo colorido,
não deixando a minha dor
invadir o meu abrigo.

Às vezes chorando
vou rasgando um sorriso,
porque assim vou libertando
o meu pássaro ferido.

Às vezes desarmada
faço frente a duras guerras,
numa carta mal jogada
vou vencendo primaveras.
                                 Célia Gil

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Repouso

Célia Gil

                                               (imagem do Google)


Quando o sol repousa no seu vagar
na calma da tarde que preguiça,
sinto a pressa dos dias a hesitar
a dizer vai quando a vida diz fica.

Quero ficar mesmo para lá do tempo,
sentir a paz em mim a vadiar,
colher da vida cada bom momento,
não ter que decidir ou que pensar.

E repousar quando os olhos se fecham
cansados das desgraças desse dia
e só procuram sonhos que mereçam

porque tornam a noite agreste em dia.
E sem que os tristes olhos se apercebam,
contraem até que a alma sorria.
                                                Célia Gil

terça-feira, 27 de maio de 2014

verdade pessoal

Célia Gil

                    (imagem do Google)



Temos dias em que nem a tempestade nos avassala,
em que tudo parece passar-nos ao lado,
nada nos comove ou faz agir,
nada nos motiva ou leva a reagir.
Temos dias em que há uma opacidade
que nos invade por completo e só queremos fugir,
fugir de tudo, fugir de nós,
fugir da vida, ficarmos sós.
Quando a sinceridade é uma arma maléfica
que ninguém entende ou aceita,
que ninguém quer ou respeita,
 ficamos sós, nós e a nossa verdade
que ninguém quer, que ninguém vê,
que ninguém sente, que ninguém crê.
Uma verdade que acaba por morrer
quando rejeitada e ignorada,
uma verdade relativizada, minimizada,
uma verdade ignorada, vista do avesso,
uma verdade entendida como arma de arremesso.

Não posso lutar contra uma verdade cega, surda e muda,
não posso lutar sozinha...
Contra uma visão que é só minha,
contra uma sensação que só de mim se apodera,
contra uma realidade que só eu vejo,
que só eu percebo...na minha solidão!
                                                                     Célia Gil

terça-feira, 22 de abril de 2014

Não à violência

Célia Gil
E porque este é o mês da Prevenção dos Maus-tratos contra crianças, venho partilhar os cartazes que tenho feito na  CPCJ (Comissão de Proteção de Crianças e Jovens) do Fundão:






Célia Gil

sexta-feira, 4 de abril de 2014

As lajes da minha rua

Célia Gil
As lajes da minha rua
têm histórias para contar,
têm sons na pedra nua
de quem as costuma pisar.
Têm o som dos saltos
da rapariga de saia travada
que vai ver o amado
do outro lado da estrada.
Têm o som das sabrinas
das meninas rabinas
que calcorreiam a rua
à procura de aventura.
Têm o som de botifarras
de quem marcha para a jorna
sem pressa, quase na sorna.
Tem o som das pantufas
da vizinha do 31
que, com a do 21,
fazem um bom par de cuscas.
Tem o som da criança que cai
e que se volta a levantar
por entre um ou outro ai
e da mãe a lamentar.
Têm pressa, têm calma,
têm medo, têm confiança,
as lajes da minha rua
têm fé e perseverança.
Lamentam o cortejo funerário
que passou em comoção.
Sabem a história do vigário
que enganou com convicção.
Têm o som sincronizado
dos crentes na procissão,
de quem vai extasiado
na sua fé e devoção.
Têm o tom monocórdico do pedinte
cuja história conta com dramatismo,
com o intuito de no ouvinte
despertar o altruísmo.
Têm o som do carteiro
batendo com animosidade,
traz as contas, o dinheiro,
a carta e a publicidade.

As lajes da minha rua
têm alegria no movimento,
choro fácil na pedra nua,
têm uma história em cada momento.

                                                Célia Gil

terça-feira, 18 de março de 2014

Dias cinzentos

Célia Gil

Há dias em que a luz
não brilha dentro de nós,
em que como a avestruz
só queremos ficar a sós,
fugir de tudo, ficar escondido,
sem saber bem o motivo,
em que tudo o que nos é dito
nos soa a adversativo.
Dias maus que chegam,
vêm, instalam-se em nós.
dias que nos desassossegam
mas que impõem a sua voz.
Têm grades invisíveis,
que nos impedem de nos mover,
nos tornam mais sensíveis
e com medo de sofrer.
O medo agiganta-se,
em nós o receio se impõe,
o dia acinzenta-se
e ao sol se sobrepõe.
E quando queremos sair,
estamos amarrados à tristeza,
deixamos até de sorrir,
presos à nossa fraqueza.
Precisamos de alguém
que nos liberte, nos dê atitude,
nos mostre de novo a amplitude
do brilho que o sol tem.

                             Célia Gil


terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Parabéns filhotes!

Célia Gil
Tenho andado meio desaparecida, mas é por boas causas nesta minha nova função de representante da Educação na Comissão de Proteção de Crianças e Jovens. É complicado, mas gratificante.

Hoje dedico esta publicação aos meus filhos, que fizeram anos este mês, nomeadamente 18 e 15. Continuo a vê-los pequeninos como na foto que partilho. Lembro os risos, os choros, as birras, as gracinhas, as noites de febre, os primeiros passos, as primeiras palavras, as brincadeiras tudo com IMENSA SAUDADE! Continuarão a ser para mim os meus bebés, nem que, como dizia Eugénio de Andrade, já não caibam na moldura ("Poema à Mãe").

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Sair de mim

Célia Gil
Desapareci.
Vagueei dentro de mim,
planei pelas minhas emoções
e perdi-me
entre sensações e divagações.
Presa no interior umbilical,
a realidade nada me diz,
como quando chove lá fora.
Pensei que era o mais seguro,
que dominava cada partícula do meu íntimo...
Quão enganada estava,
perdi-me sem me encontrar,
e o abrigo em que me aconchegava
deixa entrar a chuva mais gelada.
Escureceu...
E este refúgio
é ainda mais assustador.
Quebrei a asa da razão,
no galho de uma ideia teimosa.
Perdi o sentido da vida
no rumo incerto da inexistência.
Deixei escapar a vontade
no cansaço de um dia repetitivo.
E senti o peso
do vazio.

Preciso sair de mim
para me reencontrar,
sem rumo,
sem direções,
sem obrigações,
sem decisões,
com uma liberdade livre,
num mundo
onde a felicidade é possível,
onde nada exigem de nós,
onde somos
sem a responsabilidade de sermos.

                                             Célia Gil



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