terça-feira, 30 de maio de 2017

Ego na penumbra

Célia Gil



Já nem sombra sou do que fui,
perdi-me na penumbra do meu ser,
sou alguém que nem sombra possui
e não se encontra num novo alvorecer.

Já não faço sombra a ninguém,
não me temam, sou o falso herói
sem história, essência e vintém,
já nem o ego me dói.

Resto de um rasto que se apagou
na estrada por onde nunca se andou,
nem a fímbria de um rio obscuro,
nem musgo a crescer num muro.

Fica o nada do que fui um dia,
um eu à procura do seu ego,
um eu nitidamente cego
a viver uma existência vazia.


                                        Célia Gil

domingo, 28 de maio de 2017

ironias do des(a)tino

Célia Gil



Quem os sonhos me sugou,
me deitou a loucura por terra?
Quem me levou a primavera,
me esqueceu e me abandonou?

Quem me esgotou toda a energia
entre sucessivas deceções?
Me fez errar entre falsas razões
no poço fundo da melancolia?

Quem me roubou a confiança,
entre derrotas consecutivas?
Me arrancou pessoas queridas
macerando os grãos de esperança?

Ai de quem,
ai de quem
a vida me escondeu
num labirinto, perdeu
a chave do caminho
e trocou as voltas ao destino!

                                     Célia Gil

sexta-feira, 26 de maio de 2017

Bolo de chocolate

Célia Gil
Para quem gosta de um bom bolinho de chocolate, aqui vai uma receita de um que fica divinal:

1.º Misture os ingredientes seguintes:
- 2 chávenas de farinha
- 1 colher de fermento em pó
- 1 chávena e meia de açúcar
- 1 chávena de chocolate em pó

2.º Junte ao preparado anterior e bata bem:
- 4/5 ovos (separe as claras das gemas, junte as gemas, bata as claras em castelo e reserve)
- 1 chávena de leite
- 1 pacote de natas
- 1 chávena de óleo

3.º Bata bem e termine envolvendo as claras que bateu em castelo.

4.º Numa forma, barrada com manteiga, coloque o preparado, que vai ao forno a 180 graus, por cerca de 50 minutos (verifique com um pau de espetada se está cozido).

5.º Faça a calda, enquanto o bolo coze, juntando os ingredientes e deixando apenas no fogão até ferver:
- 2 colheres de manteiga
- 7 colheres de sopa de açúcar
- 7 colheres de sopa de leite
- 7 colheres de chocolate em pó

6.º Coloque em cima do bolo, depois deste cozido e deixe ficar no forno, já desligado, durante cerca de uma hora.

Depois delicie a família, que vai adorar.

Como não tinha foto, retirei da Internet aquela que mais se parece com o resultado deste bolo:


Bom apetite!



segunda-feira, 15 de maio de 2017

Mendigo

Célia Gil


Qual vagabundo à deriva
Perdido nas cinzas do que foi,
Sinto-me a alma esquecida
Tão esquecida que já nem dói.

E no vazio das emoções,
Vou deixando apenas de ser.
Larguei a mão às sensações
Até de mim mesmo me perder.

O meu coração já não rima
Com paixão, emoção, comoção...
Sou mendigo que sobe rua acima
Sem levantar os sonhos do chão.

                                              Célia Gil
(imagem pesquisada em https://geracaojosac.files.wordpress.com/2011/09/mendigo-01.jpg)

domingo, 14 de maio de 2017

Obrigada Salvador!

Célia Gil

É com orgulho imenso que vejo Portugal ganhar,este ano, o Eurovisão, Dois irmãos a trabalhar em equipa - compositora e cantor. Um poema emocionante e uma interpretação sentida. Deixo o poema:

Amar pelos dois

Se um dia alguém
Perguntar por mim
Diz que vivi
Para te amar

Antes de ti
Só existi
Cansado e sem nada p’ra dar
Meu bem
Ouve as minhas preces
Peço que regresses
Que me voltes a querer

Eu sei
Que não se ama sozinho
Talvez devagarinho
Possas voltar a aprender

Se o teu coração
Não quiser ceder
Não sentir paixão
Não quiser sofrer

Sem fazer planos
Do que virá depois
O meu coração
Pode amar pelos dois.

Luísa Sobral e Salvador Sobral


quinta-feira, 11 de maio de 2017

Pai, um amor para sempre

Célia Gil
(imagem do Google)

Um conto que é uma reflexão sobre a efemeridade da vida, motivo por que devemos cuidar ainda mais e melhor os que nos são mais queridos.

Pai, um amor para sempre

     Cresceu. Como era suposto. Porque o tempo não perdoa e passa inexoravelmente sem questionar ninguém, sem deixar ninguém a beber memórias no passado. Passa, mas não o faz inocentemente, e vai deixando um lastro de dor que teima em acompanhar até ao presente. Quando teima...
     Agora caminha ao lado do pai que, de perfil, lhe parece a sua imagem quando se olha de lado no espelho para se barbear com perfeição. Dá-lhe conselhos. Ao longo dos tempos, inverteram-se os papéis. Inverteu-se tudo, até a vida, que lhe parece estar de cabeça para baixo.
     O olhar do pai foi sugado pelo tempo, que lhe levou o pensamento. O seu cérebro parece hoje uma caixa branca imaculada, tão branca, vazia e espaçosa que dói...
     E o filho, ante uma ou outra palmadinha nas costas, continua a contar-lhe histórias, histórias que não foram suas. Histórias do pai que recria como se fossem suas, à espera de despertar através delas um sorriso, um esgar de emoção nos lábios contraídos, uma lágrima, uma comoção no rosto tão sem expressão!
     Mas o que vê é o silêncio, é um mover como que comandado de membros um pouco desarticulados, antes tão ágeis, agora tão frágeis. Deixou de ser. Limita-se a um existir que já não domina.
     Sem saber quem o leva pela mão, a um passeio onde não escolheu ir, que força as pernas que apenas querem descansar das histórias... Tem os ouvidos a rebentar de cansaço, apesar de as sensações auditivas já pouco ou nada o incomodarem.
     Instintivamente senta-se numa pedra, firma a bengala e recusa-se a prosseguir por histórias tão sinuosas, que já nada lhe dizem e que soam ao vazio do seu novo quarto de paredes brancas. São histórias que cansam, que maçam, que o levam a bater vezes sem conta com a bengala na terra árida. E cospe, cospe no chão que foi seu, mas que já nada lhe diz.
     E a lágrima que o filho ansiou ver o pai verter, é na sua face que cai e que deixa correr, sem se preocupar, pois o pai não a verá, não a sentirá, não voltará a apiedar-se dos sentimentos que o filho lhe possa confessar ou transmitir, nem sequer com os estados de alma que antes tão bem conseguia inferir. E é o filho que tem um esgar de emoção, quando relembra na bengala a enxada que tantas vezes batalhou aqueles solos áridos. Terrenos a perder de vista, sempre limpos de mato e repletos de vinhas que cuidava de forma extremosa.
     E é o filho que sorri de complacência e de resignação, porque sabe que nada mais pode fazer.
     Com toda a calma a que se habituou com o tempo, volta a pegar no pai pela mão, a mão daquele que já sem ser é e será sempre o seu pai. Beija-a e sussurra-lhe ao ouvido “voltemos para casa!”
     E regressam, num silêncio que se impõe e que é a única cumplicidade que lhes resta.
                                                                                                                                                    Célia Gil



quarta-feira, 10 de maio de 2017

Primavera

Célia Gil
Por aqui a primavera, ainda que instável, vai-nos presenteando com belas flores, cerejas, morangos, entre tantas outras belezas e delícias desta estação. 

 Rosas de várias cores e espécie, aveludadas, coloridas, encantadoras...
Pequenos apontamentos em recantos...
                                    

 Cerejas a amadurecer na árvore até ficarem bem docinhas!

 Para a prova, as primeiras!

 Morangueiros e flores coloridas e diversas!
Tudo a encantar a alma, a despertar emoções adormecidas pelo inverno desgastante.

segunda-feira, 8 de maio de 2017

Silêncio

Célia Gil
                                          (imagem pesquisada no Google)

Temos tanto para ouvir
no silêncio que nos abraça!
Temos tanto para aprender
com o que não nos é ensinado...
Porque as palavras estão gastas,
de demasiado repetidas,
demasiado gritadas,
demasiado inflamadas de razão,
demasiado capazes de julgar,
de opinar, de esclarecer, de maltratar...
Já não encantam os tímpanos!
As palavras foram deturpadas e são agora
apenas vulgares, ocas, vazias...
Resta-me escutar o silêncio
que tem o último facho de luz
onde aquecemos memórias,
recuperamos forças ténues
e bebemos lições,
se as quisermos ouvir...

Apoderamo-nos das palavras
como de tudo o que tornamos nosso.
Mas nada é nosso.
Nosso, só o silêncio,
onde reside a essência do que
supomos ser a nossa existência.
Uma réstia de nada,
entre o princípio e o fim,
num eco de palavras quase inaudível
levadas cada vez mais pelo vento...
                                                    Célia Gil

sábado, 6 de maio de 2017

Célia Gil
(imagem do Google)

Grito de uma cria solitária

Não sei, simplesmente não sei,
ser simplesmente mãe.
Sinto tanto a falta de ser filha!
E continuo a recordar-te com tanta saudade,
MÃE!
Sinto na ausência do teu colo
a minha ansiedade mais profunda;
na ausência da tua voz,
o silêncio que me martiriza;
na falta de conselhos e apoio,
as calinadas que dou na vida;
Ah, pudesse eu continuar a ser filha
para me sentir completa!
O vazio é um ninho que dói demais,
onde a cria triste e solitária
piará pela mãe até que esta a ensine a voar.
O meu voo é rasteiro,
não me deste tempo para aprender
a voar com a tua segurança.
Ser filha é não ser mãe sozinha…
No ninho, guardo apenas as nossas histórias,
neste ninho, que se vai desfazendo,
rio e choro na minha solidão de recordações.
O Dia da Mãe tornou-se no buraco escuro
da memória do dia em que partiste.
É tão bom ser Mãe, mas …
Pudesse eu voltar a ser filha!
E era tão bom ser tua filha!
                                Célia Gil

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