domingo, 30 de julho de 2017

Luta diária

Célia Gil

quinta-feira, 27 de julho de 2017

Vazios

Célia Gil


Chorei, quando te vi partir,
por mim, por ti, por nós.
Chorei a vida por partilhar,
a história por contar,
o sorriso por sorrir.

Chorei, quando senti o vazio
que deixaste por aqui.
Chorei ao sentir o chão frio
nas pisadas que te segui.

Chorei, quando a porta se fechou
para sempre, eternamente.
Chorei porque tudo ficou diferente
e não me reconheço no que ficou.

Chorei a tua, a minha tristeza,
por ti, por mim, por nós,
pela história interrompida.
Chorei porque ficámos sós,
com uma única certeza,

a de que a porta se fechou
irremediavelmente se encerrou
para sempre,
eternamente.

                                Célia Gil
                              (27/07/2017)





domingo, 23 de julho de 2017

Ensinar a ler é ensinar a sonhar

Célia Gil


O poder da leitura é inigualável. 

A leitura despoleta no leitor o desejo de mais leituras, ficando este ansioso por empreender a leitura de um novo livro mal tenha terminado outro, isto caso não esteja a ler vários livros ao mesmo tempo. Este leitor assíduo é aquele que sente um vazio entre uma leitura e outra. Um bom leitor, ainda que difícil de definir, será, talvez, aquele que consegue, através da leitura, manter-se informado, instruir-se gradualmente, obter uma crescente capacidade argumentativa, ganhar um poder ativo e interventivo enquanto cidadão, mas, ao mesmo tempo, nunca perdendo a capacidade de sonhar, de se reinventar e de se encontrar e reencontrar no prazer da leitura. 

É preciso empreender, acreditando, um trajeto para os mais jovens que os leve à perceção da importância da leitura, mas também da magia que tem ao permitir ao leitor continuar sempre a sonhar. Nesse sentido, torna-se necessário facultar-lhes a capacidade interpretativa. A leitura pressupõe a compreensão de signos e a produção de sentidos, que faculta uma interação entre o leitor e o texto. 

O sonho, o devaneio, a criatividade, a sensibilidade e o imaginário, vêm, quanto a mim, complementar o conhecimento, a criação e a transformação. É ao perspetivar a realidade de forma individual, que o leitor cria novas realidades através da imaginação, ideais que vêm dar novo sentido e cor a realidades insatisfatoriamente gastas. 

E a motivação para a leitura nos mais novos, tem necessariamente de passar por aí, correndo o risco de os desmotivar logo, à partida, para a descoberta da leitura, que deve ser vista precisamente como um universo mágico, irreal, que permite sucessivas recriações do mundo, onde tudo é possível, onde tudo pode acontecer. É essa magia criada na motivação para a leitura que vai prender a criança a esse mundo imaginário, ficcional, que lhe permite viajar por onde nunca viajou, conhecer novos espaços, confrontar-se com uma nova noção do tempo. 
                                                                                           

                                                                     in Gil, Célia (2016). Dissertação de Mestrado.


segunda-feira, 17 de julho de 2017

Dias...

Célia Gil
Há dias de inverno,
em que a chuva e o vento,
invadem as nossas vidas.
E com profundo lamento,
deixam as almas perdidas,
as forças entorpecidas.
Um frio por fora e por dentro,
uma incapacidade de movimento...

Há dias simplesmente cinzentos,
vazios de movimentos,
de um nada querer por fora
de um nada crer por dentro.
São dias em que me ausento
de mim, em mim, por mim.
Em que nada faz sentido,
e cada gesto que faça
é mais um gesto perdido,
que não larga nem enlaça.

Há dias de um sol intenso,
que brilham por fora
e preenchem por dentro.
São dias de movimento,
de um querer imenso,
de um crer em pensamento.
Dias de amor,
dias de paz,
dias de ficar,
em que tudo se faz,
num torpor
de acreditar!
                  Célia Gil
(imagem daqui)

segunda-feira, 10 de julho de 2017

Não ao abandono dos animais!

Célia Gil
(foto daqui)

      Não podia deixar de manifestar o meu pesar pelas políticas hoteleiras que promovem o abandono de animais ao não permitirem que estes possam ficar hospedados com os seus donos. 
     O Dragão é um cão que está connosco vai fazer a 14 de agosto 13 anos. Está velhinho, tem um problema cardíaco e não pode ser deixado com ninguém, pois fica nervoso na nossa ausência. 
    Este fim de semana fomos à Figueira da Foz e foi neste momento que me apercebi que o único hotel a aceitar animais (com uma taxa acrescida de 15 euros) foi o hotel Ibis. É incrível, um único hotel. Na Figueira e arredores (Quiaios, etc) não aceitaram o meu cãozinho, que precisa que lhe demos medicação, atenção e carinho e que está habituado a estar sempre connosco. Fomos para o Ibis. Pagámos mais. Mas não abandonámos o Dragão. E reforço que os hotéis promovem o abandono de animais, ao não permitirem a sua presença!!!!!
    O meu cão é limpinho, não larga pelo, porta-se melhor do que muitas pessoas e não deixa nada sujo, não faz barulho, não destrói, não bebe, não fica na conversa até altas horas, não leva toalhas nem lençóis na mala. 
     Não estará na hora de os hotéis se modernizarem e  abrirem as mentes?

     Onde estão os princípios, a ética, a moral? 

    NÃO ao maltrato e ao abandono dos animais!
                                                                                       Célia Gil

sexta-feira, 7 de julho de 2017

No meu peito há um ninho

Célia Gil

             

Não pode ser,
não posso aceitar
que a vida passe assim,
sem pestanejar,
sem que se chegue a hora,
pois nunca é a hora
para um virar de página,
numa história que nunca chega ao fim.
Não quero voltar a sentir
a dor da despedida;
a solidão a espreitar pela porta,
que deixarás entreaberta,
a dominar as nossas vidas;
o silêncio a preencher as paredes
de encontro à nossa alma;
o vazio dos dias
a esvaziar-nos as mentes
e a roubar-nos as forças.
Não quero,
não posso querer,
ainda que saiba que é assim,
ainda que saiba que os pássaros voam,
ainda que saiba...
No meu peito há um ninho 
tão vosso,
tão nosso,
que não posso...
                              (07/07/2017)
                                 Célia Gil

quarta-feira, 5 de julho de 2017

Os livros que devoraram o meu pai

Célia Gil
Cruz, Afonso (2010). Os Livros que Devoraram o Meu Pai. Alfragide: Caminho.

Integrado no Plano Nacional de Leitura, na categoria de Leitura Autónoma (3.º Ciclo), Os Livros que Devoraram o Meu Pai é um livro imperdível e que pode ser lido por várias gerações.
Com um sentido de humor notório e uma criatividade linguística que prendem o leitor nas primeiras linhas, é impossível não se envolver pelo jovem Elias Bonfim, que nos conduz em aventuras imperdíveis. Quando fez doze anos, Bonfim foi presenteado com a chave do sótão, onde estavam os livros do seu pai, que desaparecera por um livro adentro, A Ilha do Dr. Moreau. O pai deixara instruções precisas, uma verdade revelada pela avó, cujas palavras “vinham cheias de cabelos brancos”, na sua voz um pouco “amarrotada”. O pai não fora apenas um colecionador, mas um leitor voraz, que acaba por incutir no filho o interesse pela leitura.
Como seria este sótão? Que livro começou Bonfim por ler? Afinal, até que ponto a personagem do livro A Ilha do Dr. Moreau, Edward Prendick, é real? E quem seria o Dr. Zirkov, “que usava uns olhos pequeninos escondidos atrás duns óculos” e que também era mencionado no enigmático livro? Como terá decorrido o encontro de Bonfim com o Dr. Zirkov? Muitas são as questões que se vão colocando ao leitor à medida que avança na leitura, cada vez mais absorvido, cada vez mais devorado pelo livro.
E quando, a par destas aventuras emocionantes, há uma Beatriz na escola, cujos cabelos negros “deslizavam pelos ombros, como o cheiro do café desliza pela chávena”, a quem Bonfim não resiste, tal como o Bombo, o jovem das histórias chinesas.
Não posso terminar sem apresentar um excerto cativante:
«Uma biblioteca é um labirinto (…) Porque nós somos feitos de histórias, não é de a-dê-enes e códigos genéticos, nem de carne e músculos e pele e cérebros. É de histórias (…) Há inúmeros lugares onde um ser humano se pode perder, mas não há nenhum tão complexo como uma biblioteca.»
Usa-se muito a expressão “devorar um livro” para marcar aquelas obras que queremos ler até ao fim sem parar. Foi muito divertido pensar na hipótese inversa, porque também o livro pode devorar o leitor, prendendo-o e impedindo-o de deixar com facilidade a história por que foi envolvido.


Além de escritor, Afonso Cruz é também ilustrador, cineasta e músico da banda The Soaked Lamb. Nasceu em 1971, na Figueira da Foz, e viria a frequentar mais tarde a Escola António Arroio, em Lisboa, e a Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, assim como o Instituto Superior de Artes Plásticas da Madeira e mais de cinquenta países de todo o mundo. Já conquistou vários prémios: Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco 2010, Prémio Literário Maria Rosa Colaço 2009, Prémio da União Europeia para a Literatura 2012, Prémio Autores 2011 SPA/RTP; Menção Especial do Prémio Nacional de Ilustração 2011, Lista de Honra do IBBY – Internacional Board on Books for Young People, Prémio Ler/Booktailors – Melhor Ilustração Original, Melhor Livro do Ano da Time Out 2012 e foi finalista dos prémios Fernando Namora e Grande Prémio de Romance e Novela APE e conquistou o Prémio Autores para Melhor Ficção Narrativa, atribuído pela SPA em 2014.

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